14 de dez. de 2009

Júlio Cesar - Uri Geller


"Não era eu que estava ali em campo". Sim Júlio Cesar, agora eu estou entendendo aquela sua frase!Depois de assistir os vídeos daquele Flamengo ainda em formação que ganhou tudo que um time de futebol brasileiro poderia ganhar naquele tempo, eu afirmo que realmente não poderia ser você. Aquela figura simpática e serena que nos recebeu para a entrevista não podia ser a mesma que entortava os laterais, que enchia de raiva os zagueiros e desmontava os esquemas táticos dos técnicos adversários.Uri Geller, o ilusionista, deixava as colheres tortas e impressionava o público domingo que assistia ao Fantástico na Rede Globo. O jogador que se exibia justamente ali, ao lado da galera na antiga geral do Maracanã, com seus dribles e assistências fazia o domingo dos rubro-negros um pouco mais feliz. Se era um monstro, não sabemos. Mas para o bem do futebol ainda bem que ele encarnou em você!

DEPOIMENTO:

"Antes que alguém ache que eu enlouqueci por causa da comparação que vou fazer, digo que não e não. Mas gosto de dizer aquilo que penso: Júlio César não ganhou o apelido de Uri Guiller à toa. Ele, de fato, entortava os seus marcadores. O que Garrinhcha fez durante anos com os seus Joões, Júlio César, em uma escala menor, é claro, fez com os seus adversários. Dava gosto vê-lo jogar. Ele praticava o puro futebol arte. Se aquele time inesquecível do Flamengo tinha a cara de Zico, Júnior, Andrade... tinha também a cara de Júlio César.".

(Francisco Aiello - Comentarista da Rádio Brasil)

ENTREVISTA:

a) Como foi o início da sua relação com o futebol?
“Eu morava na favela Praia do Pinto . Desde moleque eu pulava o muro do Flamengo para jogar futebol. Como eu era branquinho, ninguém lá dentro suspeitava que eu pulava o muro, era visto como sócio. Então desde sempre eu jogava no Flamengo”

b) Qual a influência do Dominguinhos (ex-atleta do Flamengo) e da Usina de Talentos na sua formação?
“Eu jogava na escolinha dele. E foi num jogo contra a Cruzada São Sebastião que fiquei sabendo do Brown (Adílio). Disserem que tinha um negro que jogava mais do que eu. Eu duvidei! Tínhamos seis ou sete anos. Foi aí que começou a nossa história”

c) Quando você entrou oficilmente no Flamengo?
“Ah, isso foi no início dos anos 1960, acho que 1961, não me lembro muito bem! Desde do dente de leite até o time de cima eu joguei no Flamengo. Peguei Seleção no Pan – Americano em 1975 e Olímpica em 1976. Nas Olimpíadas, ficamos em 4° lugar, perdendo para os socialistas. Quando estourei a idade, fui para o Remo em 1977, quando ganhei a Bola de Prata da Placar. Voltei em 1979, quando o Coutinho era o técnico.”

d) Quem lhe deu o apelido de Uri Geller?
“Me parece que foi o Jorge Cury e encaixou com estilo, né?!”

e) Como você era ponta, é natural que tenha marcado poucos gols na sua carreira. Quantos gols você marcou pelo Flamengo? Qual o mais importante?
“1280 passes na cabeça do Zico, anota aí! Eu não tô nem aí para gol! Para mim, o drible era como um gol. Pergunte aos laterais como eles ficavam tortos. Júlio César era um personagem, aquilo era um monstro; eu botava o manto e ficava aquilo. Eu queria driblar! Era como matar a fome para mim.”

f) Qual foi o lateral direito mais violento que você enfrentou?
“Não consigo lembrar de ninguém especial.”

g) Em 1979 existiram dois campeonatos cariocas. Como foi encarado pelos jogadores este fato inédito? Como conseguiram inspiração para o Tri?
“Se você não jogasse bem você estava fora. Se eu não jogasse bem, o Lico entrava. Se o Zico jogasse mal, o Tita jogava. Hoje, não há ninguém a altura.”

h) Como foi a sua saída do Flamengo?
“Eu tive que sair porque surgiu uma proposta do futebol argentino. Menotti me chamou para a Seleção das Américas e ele tinha o sonho de me ver ao lado do Maradona. Me naturalizei mas o Passarela ‘me achou’. Quebrei os ligamentos e fiquei fora do mundial.”

i) Por quais clubes você passou na Argentina?
“Cheguei no Talleres de Córdoba. Ganhei a Chuteira de Ouro e aí veio a tal lesão”

j) Depois você voltou ao Brasil.
“Sim, vim para o Grêmio mas não conseguia jogar, o Grêmio me emprestou para o River Plate. Já estava lesionado, e não consegui jogar. Doía muito mesmo!”

k) E o México?
“Olha, o Dirceu já estava no Amperica do México e eu acabei contratado pelo Cruz Azul. Acabei na Universidade Autônoma. Olha, eu joguei por tanto time que nós vamos ficar aqui horas!”

l) Jogou até no Vasco, né?
“Sim, foi em 1983, por três meses. Estava operado e o doutor Eurico me levou para lá para me recuperar. Joguei só algumas partidas.”

m) Como foi o final da carreira?
Bom, parar é difícil. O ex-jogador também é carente. Massagear o ego, ganhar um dinheirinho com essses jogos do Masters é bom.”

n) Você hoje é professor de escolhinha?
“Me formei pelo CREF. Por ser ex-jogador de futebol, eu pulei etapas. Quando parei, fiquei no vácuo, não tinha carteira assinada. Quem me ajudou foi o Galinho, ele me deu uma oportunidade para trabalhar no CFZ. Fiquei 13 anos, agora saí.”

o) Como é a relação de vocês, ex-jogadores, com a diretoria do Flamengo?
“Vai ter uma vice-presidência de Master, acho justo! Mais de 30% da torcida do Flamengo hoje em dia é por nossa causa. O clube vai resgatar os mais velhos. Fora isso, vamos montar 40 escolas Zico 10 no Pará (são mais de 285 escolas no Brasil), com alguns jogos para celebrar o acordo. Temos uma parceria com um cidadão de Brasília, é um trabalho que envolve crianças carentes.”