"Adílio fez parte daquele time que encantou o mundo em 1981. Seu toque de bola refinado deu ao meio - campo do Flamengo a leveza que proporcionou as glórias de Zico, Andrade, Nunes, Lico e outros craques que por ali passaram. Participou do início da campanha vitoriosa de 1987, mas questões contratuais impediram o herói do Bicampeonato contra o Santos levantasse a taça pela quarta vez. Anos depois, volta ao Flamengo como técnico vitorioso das categorias de base. Ainda desfila pelos gramados com seus antigos companheiros pelo time de máster e agora tenta uma nova carreira: a de político. Neste momento de "lua de mel" entre a torcida e o time do Flamengo, é sempre interessante revisar os ídolos do passado. Eis o "Brown" da Cruzada, de risada fácil e simpatia ímpar!"
DEPOIMENTO
"Que Neguinho é esse...?"
Foi assim que saudei Adílio na última vez em que nos encontramos. E recebi dele o abraço afetuoso de sempre, acompanhado do seu sorriso de orelha a orelha, marca registrada deste que foi um dos maiores jogadores do futebol brasileiro. Continua em forma, fininho, pronto para entrar em campo, com o mesmo andar cadenciado com que conduziu por muitos anos a bola que saía da defesa do Flamengo e que chegava ao ataque com a qualidade dos grandes mestres, isto quando não resolvia ele mesmo, usando seus dribles clássicos e desconcertantes, chegar ao gol e marcar mais um dos tantos que fez. Foi ídolo rubro negro, mas nunca recebeu a oportunidade de apresentar na Seleção o que todos sabiam que ele poderia mostrar. Quem perdeu foi a Seleção. Hoje, mesmo passando dos 50 anos, certamente teria vaga no time do Dunga. Fácil, fácil!
(Édson Mauro - Radialista)
PARTIDA INESQUECÍVEL
Flamengo e Santos (2° jogo da final de 1983)
"Parece que foi ontem. Quando Baltazar fez o gol do Flamengo no final do jogo do Morumbi, a confiança no título era imensa. Lembro a minha ansiedade para que o dia da final logo chegasse. Eu e meus amigos nos concentrávamos no sábado à noite, relembrando jogos, imaginando como seria o jogo e poupando forças para a grande final. Como vários domingos do início dos anos 1980, eu e a minha família(sim, meu irmão mais velho que hoje é Botafogo era flamenguista e ia aos jogos comigo) começávamos o dia ouvindo samba e preparando a kombi que nos levava ao Maraca. Ao chegar no templo, nos direcionamos para as cadeiras azuis, justamente para a esquerda das cabines de rádio. Foi justamente nesta direção que o gol mais marcante de minha vida aconteceu.
Ainda no primeiro minuto de jogo a final já estava empatada. Mas como assim? O Galinho fez um a zero igualando o placar das duas partidas. O Maracanã 'veio abaixo'! No segundo gol de Leandro(meu maior ídolo no futebol), ficou claro que as minhas expectativas estavam certas: o título era uma realidade. Comemorar o terceiro título brasileiro era questão de tempo. No intervalo, o samba rolava solto no Maracanã(na minha época a torcida, acredite jovem leitor, cantava samba e não tema da vitória ou funks). O segundo tempo, como era de se esperar, o Santos fez pressão e perdeu algumas chances. Nada de muito assustador!
Aquele time inspirava confiança na torcida, que já gritava "É CAMPEÃO". Então vem o lance mágico: O cabeça-de-área Vítor rouba uma bola no meio campo e esta cai nos pés de Robertinho. O ponta 'chama Gilberto para dançar' e cruza na cabeça do melhor jogador em campo: Adílio. O Brown literalmente dá um peixinho e a bola entra no canto direito de Marola. A festa na Kombi foi completa! Última parada: Laranjeiras. Era a hora de esfregar na cara do nosso rival mais um título brasileiro!!!!!!!!!!"
Alexandre Simas (Professor Educação Física)
ENTREVISTA
a) Como foi a sua efetivação como titular do Flamengo?
“Foi aos poucos, com idas e vindas. Fui me firmando aos poucos, ganhando a confiança do técnico e dos meus companheiros”
b) Vocês sabiam algo sobre o ladrilheiro? Foi algo casual ou planejado?
“Aquilo que aconteceu na final com o Vasco em 1981 não teve nenhum planejamento. Aconteceu e virou manchete. Hoje faz parte do folclore do futebol carioca.”
c) Como funcionava taticamente o meio – campo do Flamengo de 1981?“Era perfeito. O Andrade era a única cabeça–de–área. Eu voltava para fechar setor na direita, o Zico também voltava, os laterais também compunham o meio. O único fixo era o Andrade.”
d) Uma das imagens mais marcantes da história do Flamengo é sua, sangrando na final da Libertadores. Como foi o vestiário depois daquela derrota?“ O clima foi terrível. O supercílio foi o mínimo que aconteceu. Quando chegamos ao estádio, sumiram com o Figueiredo (funcionário do clube). O nosso supervisor estava chorando, pois tinha apanhado dos policiais. Naquela época era pancada mesmo! Nós encaramos tudo isso dentro de campo, o Mário Souto estava com a pedra na mão mesmo!”
e) Vocês de alguma forma adaptaram o esquema de jogo para enfrentar o Liverpool?“Não houve. Jogamos o nosso jogo. Chegamos até lá com nosso futebol. A imprensa falava muito do jogo aéreo deles, exaltando – o. o nosso jogo era bola no chão. Depois de 17 anos, eu perguntei num jogo amistoso a um dos jogadores deque Le time do Liverpool como eles encararam o nosso time. Segundo ele, os ingleses ficaram supres os com o nosso toque de bola. Pensaram que iam atropelar o Flamengo e quando acordaram já estava três a zero.”
f) Você não acha que a imagem do Anselmo ficou manchada após a agressão na final da Libertadores?“Ele mostrou ali o espírito de grupo. Eu não podia revidar. Tínhamos que escolher um cara e era o Nunes. O tempo passou, entrou o Anselmo. O jogo já estava definido e ele, para mim, salvou o povo brasileiro. Queríamos mostrar que o brasileiro podia encarar qualquer coisa, até mesmo pancada! Quando Anselmo entrou esquecemos do jogo para ver onde seria o soco. Gostamos e até alguns chilenos gostaram. Quando fui jogar noperu, joguei contra o Valência e o treinador me chamou para me dar os parabéns. Ele era treinador do Cobreloa naquela final e disse que mandou bater em mim para que a bola não chegasse no Zico. Eu mantive o equilíbrio. Nunca fui expulso!”
g) O Anselmo estava suspenso no Mundial e não pode participar do jogo.
“Sim, mas um torcedor pagou a sua passagem ao Japão devido ao seu gesto na partida contra o Cobreloa. Ele foi integrado no grupo.”
h) Quais as lembranças que você tem do Peu?
“Ele é folclórico! No Japão, tem uma boa dele. Peu estava ao telefone no banheiro e queria ligar para a sua mãe. Naquele tempo ligar era difícil e a ligação estava caindo. O Zico falou para ele: ‘É claro Peu, tu tem que ligar para ela e esperar duas horas com o telefone devido ao fuso horário!’Não é que ele ficou lá as duas horas no banheiro!”
i) 1983 foi a temporada que você mais fez gols com a camisa do Flamengo (23 no total).Ocorreu alguma mudança tática para seu melhor aproveitamento?“Amadurecimento. Naquela época o camisa 8 tinha a obrigação de tocar para o atacante. Com o tempo, eu cai para a ponta esquerda, cortava para o meio e batia para o gol.”
j) Você participou do grupo campeão de 1987, mas não disputou o Campeonato Brasileiro. Por quê?
“O meu contrato faltava pouco tempo para acabar e eu ganharia passe livre. O Flamengo me vendeu para ganhar algum dinheiro para o Coritiba.”
k) E como foi a sua passagem pelo Sul?
“Foi boa. Joguei inclusive contra o Flamengo no Maracanã. Foi horrível jogar contra o meu time do coração. Os dois times estavam subindo de produção, quem ganhasse engrenava. O Flamengo ganhou e o resto da história todos conhecem.Depois fui para o Barcelona de Quaiaquil”
l) Como surgiu a proposta para treinar o clube saudita do Bahain?
“Eu estava no Avaí. O Ralf (preparador físico) tinha me levado como treinador – auxiliar. Fui treinar o júnior. Também treinava as escolhinhas. Aí a carreira engrenou! Voltei para jogar no América de Três Rios (ficamos em quarto lugar no Carioca).”
m) E a sua passagem nos Estados Unidos?“Em Boston, dava aula de futebol, personal e jogava no Boston Bulls. Na cidade muitos falavam português, o que facilitou minha adaptação. Tinham poucos americanos. Voltei em 1991.”
n) Como foi a experiência de treinar o time principal do Flamengo?
“Eu treinava o time de juniores. Foi na época que o Espinosa resolveu deixar o time principal apenas treinando para esticar a pré- temporada. Peguei o time de baixo para estrear no carioca e o time perdeu os dois jogos. Para mim foi legal e para a garotada também!”
o) Quando você saiu no ano passado do Flamengo, muitos criticaram a diretoria por não prestigiar seus ídolos. Como é a sua relação com a diretoria do Flamengo?“Quando você faz um trabalho muito bom, algumas pessoas não gostam. Mais de 38 jogadores foram revelados. Isto diz muito!”
Minha conversão aos designos da estrela ocorreu em 1979, no jogo do gol do Renato Sá. O resto é correto. E como tinha gente no Mário Filho!
ResponderExcluirAbraços
L.A.Simas