9 de mai. de 2013

Athirson

(Ilustração de Gabriel Souza)
DEPOIMENTO

A imagem que tenho é do dia que conheci o Athirson  pessoalmente, no estacionamento do Fox Sports. Até aquele momento eu era o narrador de muitos jogos da carreira dele e ele era um jogador que sempre admirei e um dos melhores laterais dos últimos anos. A partir dali pude conhecer o melhor desse cara. Athirson é uma pessoa simples, de bom coração, sempre pronta para ajudar e para aprender,  e que não se comporta --- como muitos fazem --- como uma estrela. É um prazer ter a companhia do Athirson e dividir as transmissões com o "meu lateral".
(João Guilherme, da FOX Sports)



ENTREVISTA

Fiz essa entrevista com Athirson Mazolli e Oliveira, nascido em 16/01/77, no casarão da FOX SPORTS. Jogador com uma família bem estruturada, classe média, tem uma visão diferenciada dos demais profissionais da área.

Simpático, solícito e bastante habilidoso no futebol vi-o pela primeira vez presencialmente no dia do nascimento da minha filha Paula ( 2/09/2006 ) na Perinatal de Laranjeiras. Sua segunda filha também nasceu lá junto com a Paulinha.

Revelado nas divisões de base do Flamengo, Athirson começou a atuar, profissionalmente, no ano de 1996.

Muito habilidoso, cativou a torcida rubro-negra logo de cara, consolidando-se na lateral-esquerda do time. No início de 1998, foi emprestado ao Santos, porém tornou a vestir a camisa do Flamengo no mesmo ano.

Abaixo podemos conhecer um pouco mais esse grande lateral esquerdo que jogou no Clube de Regatas do Flamengo


1 ) Como foi o seu início de vida?

Fui para a URCA com 2 anos de idade e passei minha infância lá ficando até 14 anos. Meu pai é militar, hoje está na reserva. Foi lá que comecei a minha vida futebolística ( escolinha ).

2 ) Como foi esse jogo contra os cegos que marca o início da sua vida no futebol ?
 
Houve um jogo de futebol de salão com os cegos do Benjamin Constant na URCA e bem pequeno fui chamado para um jogo deles.  A visão é tudo no futebol. Eles não eram totalmente cegos e o goleiro era o único com visão. Com eles aprendi que futebol é jogar próximo um do outro e que a comunicação é muito importante.


3 ) Quem levou você para o Flamengo?

Já fazia escolinha no Flamengo pois meu pai era sócio do clube. Tudo começou pois eu fazia futebol de salão no América e joguei três partidas por lá. Houve um jogo contra o Flamengo onde me destaquei e fui chamado para fazer um teste no campo. Nessa época tinha 10 anos. Fui informado sobre um horário de treino errado. Fui de manhã e o horário do treino de campo nesse dia era de tarde. Já que eu estava lá fui chamado para fazer o teste no futebol de salão. Fui aprovado, arrebentei  e o diretor de futebol, Anderson Barros, me colocou nessa equipe. Posteriormente, o preparador físico, que trabalhava no salão e no campo, me levou para o gramado. Fiz, fui aprovado e aí começou a minha carreira.


4 ) Você vem de uma família oriunda de classe média. A grande maioria dos jogadores é de uma classe média baixa. Sempre temos situações de jogadores que desgastam sua imagem por problemas extra campo. O caso mais recente foi o do Adriano. Como você vê essa situação? O que pode ser feito para evitar situações como essa?

Acho que a cabeça do adolescente, do jogador  de classe média baixa, não está preparado para crescer tão rápido na vida e isso acontece no futebol.  De um momento para outro muda tudo na cabeça dele e o mesmo não está estruturado para isso. Ele ganha inicialmente um salário altíssimo, que um cidadão normal teria de estudar muito e, assim mesmo, com muita dificuldade de conseguir atingir esse patamar. O ideal é que o clube e empresários comecem a formar esses atletas através da educação. Eles devem formar um homem, antes de mais nada.  Somente a educação pode mudar isso.

No caso do Adriano, eu tive a possibilidade de jogar com ele, o pai  era o  responsável pela sua carreira. Ele teve grandes empresários, cresceu profissionalmente, virou o Imperador e com a perda do seu pai que era fundamental na sua carreira se perdeu profissionalmente
.

5 ) Na sua carreira você começou a jogar como profissional em 1996. Extremamente habilidoso,  cativou a torcida rubro-negra e, rapidamente, consolidou-se como o lateral-esquerdo titular do time, deixando Gilberto no banco. Foi guiado aos profissionais por Joel Santana, e mostrou seu talento em uma grande exibição diante do arquirrival  Vasco, em agosto de 1996. No início de 1998, no entanto, foi emprestado ao Santos e logo no ano seguinte, tornou a vestir a camisa do Flamengo. Em 1999 foi campeão pela Seleção Brasileira no torneio pré-Olímpico. Em 2000 marcou um gol importante contra o Vasco e defendeu o clube até 2001, quando foi para a Itália. Em 2001, recusou uma proposta do Barcelona e assinou contrato com a Juventus após uma batalha judicial em seu fim de contrato. No futebol italiano, fez apenas cinco jogos, não marcou nenhum gol e foi afastado após a contratação de Marcello Lippi para o cargo de técnico do clube. Por que você decidiu ir para o exterior em um momento tão bom? Por que você foi para o Juventus e não foi para o Barcelona?

Foi o melhor momento da minha carreira, no Flamengo em 2000. Vieram propostas altas do Barcelona e da Juventus. Eu estava sendo convocado periodicamente para a Seleção Brasileira. Eu tinha salário baixo em comparação aos demais atletas do grupo e faltavam seis meses para acabar o meu contrato. Lembro até hoje que conversei com o presidente  Edmundo Santos Silva, mostrei as duas propostas, a minha empresária Marlene tentou mostrar a grande vantagem para mim e para o clube e ele disse que só venderia por US$20.000.000. Esse era valor de um atacante...

Disse que não ia vender e eu tinha a possibilidade de assinar contrato pela lei. Assim saí do Flamengo. Hoje faria de outra forma, tenho outra visão. Ficaria no Flamengo, disputaria a Copa do Mundo e depois sairia.  Só que o salário era muito alto, eu era jovem, tinha vivido a minha carreira no Flamengo desde pré-mirim e optei por sair. A ideia era ir para o Barcelona. Só que nessa época o presidente do Barcelona entrou em impeachment e ninguém poderia ser contratado ou vendido. Fui para o Juventus com um salário que me deslumbrou, era quase 1000% maior do que eu ganhava no Flamengo. Eu me arrependo pois o meu futebol se assemelha mais com o Barcelona por ser um futebol mais ofensivo. Nessa época a Itália era mais defensiva. Quando cheguei joguei bem com o Ancelotti e com a entrada do Marcelo Lippi como técnico da Juventus não joguei, ele não me relacionava para os jogos. Não sei se não gostava de brasileiros pois tinha tido um problema, uma briga, com o Ronaldinho na Internazionale de Milão
...


6 ) Você acabou voltando para o Flamengo...

Sim, voltei à Gávea emprestado pela Juventus em 2002 para  tentar jogar a Copa do Mundo mas não consegui.  Revivendo uma boa fase na minha carreira, ganhei a Bola de Prata, da Revista Placar, por meu desempenho no Campeonato Brasileiro. Machuquei o joelho no final do empréstimo de 2003, o tendão patelar, e em 2004, regressei ao Juventus, da Itália e fizemos um acordo para rescindir contrato em função da minha lesão. Fiquei 8 meses machucado
.

7 ) De lá, foi para o CSKA?

Isso não aconteceu. A imprensa noticia isso mas não ocorreu. Treinei uma semana lá, fechei os valores e na hora da transação o treinador pediu dinheiro para eu jogar lá. O meu empresário da época, Jorginho, não aceitou e voltei de novo para o Flamengo, fiquei até o fim de 2004, quando fui para o Cruzeiro
.

8 ) Além do Flamengo, você jogou em clubes como o Juventus-ITA, Santos, Cruzeiro, Bayer Leverkusen, Botafogo, Brasiliense e Portuguesa, além da Seleção Brasileira.. Que clubes você guarda com carinho?


O Flamengo  que é o meu time do coração, o Santos onde adquiri experiência e o Cruzeiro, na primeira passagem especialmente, que acreditou em mim, lá eu me recuperei da lesão,  quando do meu retorno já que o Flamengo não quis ficar comigo. Tive um bom momento em 2004/2005 no Cruzeiro e recebi uma proposta para jogar no Bayer Leverkusen.


Por problemas de saúde da minha filha menor , tive de voltar ao Brasil e fui para o Botafogo. Não foi uma boa passagem.  No Botafogo tive problemas na diretoria e de lá fui para o Brasiliense, uma decepção, e depois Portuguesa. Na Portuguesa resgatei o meu futebol, minha alegria.


9 ) Vi em uma declaração sua que você deseja ser técnico , é verdade?
 
Tenho vontade. Hoje estou como comentaria da FOX SPORTS. Estou gostando bastante
.

10 ) Como surgiu a oportunidade para ser comentarista na FOX SPORTS?

Fui convidado para um programa especial da Libertadores do ano passado ( 2012 ) sobre o jogo  Corintthians e Santos. Gostei bastante e o retorno foi bem positivo. Depois disso fui convidado pelo  diretor da FOX SPORTS a assinar o contrato por um ano. Vamos ver o que irá acontecer no final do contrato.


11 ) Qual o gol mais marcante por você? Foram  61 gols em sua carreira, sendo 2 pela Seleção Brasileira...

Foi o gol contra o Vasco em 2000 quando o Flamengo ganhou de 3 a 0 e o Flamengo foi campeão.


 
12 ) Que mensagem você gostaria de passar para os jovens?


Hoje em dia tenho uma preocupação pela quantidade de jovens que entram no meio da droga e não conseguem sair. A mensagem é : não entrem. Saiam das más companhias. Procurem estudar bastante pois o mundo é dos inteligentes, procurando levar a vida com educação e aproveitando-a  ao máximo. Sejam felizes!