14 de dez. de 2009

Júlio Cesar - Uri Geller


"Não era eu que estava ali em campo". Sim Júlio Cesar, agora eu estou entendendo aquela sua frase!Depois de assistir os vídeos daquele Flamengo ainda em formação que ganhou tudo que um time de futebol brasileiro poderia ganhar naquele tempo, eu afirmo que realmente não poderia ser você. Aquela figura simpática e serena que nos recebeu para a entrevista não podia ser a mesma que entortava os laterais, que enchia de raiva os zagueiros e desmontava os esquemas táticos dos técnicos adversários.Uri Geller, o ilusionista, deixava as colheres tortas e impressionava o público domingo que assistia ao Fantástico na Rede Globo. O jogador que se exibia justamente ali, ao lado da galera na antiga geral do Maracanã, com seus dribles e assistências fazia o domingo dos rubro-negros um pouco mais feliz. Se era um monstro, não sabemos. Mas para o bem do futebol ainda bem que ele encarnou em você!

DEPOIMENTO:

"Antes que alguém ache que eu enlouqueci por causa da comparação que vou fazer, digo que não e não. Mas gosto de dizer aquilo que penso: Júlio César não ganhou o apelido de Uri Guiller à toa. Ele, de fato, entortava os seus marcadores. O que Garrinhcha fez durante anos com os seus Joões, Júlio César, em uma escala menor, é claro, fez com os seus adversários. Dava gosto vê-lo jogar. Ele praticava o puro futebol arte. Se aquele time inesquecível do Flamengo tinha a cara de Zico, Júnior, Andrade... tinha também a cara de Júlio César.".

(Francisco Aiello - Comentarista da Rádio Brasil)

ENTREVISTA:

a) Como foi o início da sua relação com o futebol?
“Eu morava na favela Praia do Pinto . Desde moleque eu pulava o muro do Flamengo para jogar futebol. Como eu era branquinho, ninguém lá dentro suspeitava que eu pulava o muro, era visto como sócio. Então desde sempre eu jogava no Flamengo”

b) Qual a influência do Dominguinhos (ex-atleta do Flamengo) e da Usina de Talentos na sua formação?
“Eu jogava na escolinha dele. E foi num jogo contra a Cruzada São Sebastião que fiquei sabendo do Brown (Adílio). Disserem que tinha um negro que jogava mais do que eu. Eu duvidei! Tínhamos seis ou sete anos. Foi aí que começou a nossa história”

c) Quando você entrou oficilmente no Flamengo?
“Ah, isso foi no início dos anos 1960, acho que 1961, não me lembro muito bem! Desde do dente de leite até o time de cima eu joguei no Flamengo. Peguei Seleção no Pan – Americano em 1975 e Olímpica em 1976. Nas Olimpíadas, ficamos em 4° lugar, perdendo para os socialistas. Quando estourei a idade, fui para o Remo em 1977, quando ganhei a Bola de Prata da Placar. Voltei em 1979, quando o Coutinho era o técnico.”

d) Quem lhe deu o apelido de Uri Geller?
“Me parece que foi o Jorge Cury e encaixou com estilo, né?!”

e) Como você era ponta, é natural que tenha marcado poucos gols na sua carreira. Quantos gols você marcou pelo Flamengo? Qual o mais importante?
“1280 passes na cabeça do Zico, anota aí! Eu não tô nem aí para gol! Para mim, o drible era como um gol. Pergunte aos laterais como eles ficavam tortos. Júlio César era um personagem, aquilo era um monstro; eu botava o manto e ficava aquilo. Eu queria driblar! Era como matar a fome para mim.”

f) Qual foi o lateral direito mais violento que você enfrentou?
“Não consigo lembrar de ninguém especial.”

g) Em 1979 existiram dois campeonatos cariocas. Como foi encarado pelos jogadores este fato inédito? Como conseguiram inspiração para o Tri?
“Se você não jogasse bem você estava fora. Se eu não jogasse bem, o Lico entrava. Se o Zico jogasse mal, o Tita jogava. Hoje, não há ninguém a altura.”

h) Como foi a sua saída do Flamengo?
“Eu tive que sair porque surgiu uma proposta do futebol argentino. Menotti me chamou para a Seleção das Américas e ele tinha o sonho de me ver ao lado do Maradona. Me naturalizei mas o Passarela ‘me achou’. Quebrei os ligamentos e fiquei fora do mundial.”

i) Por quais clubes você passou na Argentina?
“Cheguei no Talleres de Córdoba. Ganhei a Chuteira de Ouro e aí veio a tal lesão”

j) Depois você voltou ao Brasil.
“Sim, vim para o Grêmio mas não conseguia jogar, o Grêmio me emprestou para o River Plate. Já estava lesionado, e não consegui jogar. Doía muito mesmo!”

k) E o México?
“Olha, o Dirceu já estava no Amperica do México e eu acabei contratado pelo Cruz Azul. Acabei na Universidade Autônoma. Olha, eu joguei por tanto time que nós vamos ficar aqui horas!”

l) Jogou até no Vasco, né?
“Sim, foi em 1983, por três meses. Estava operado e o doutor Eurico me levou para lá para me recuperar. Joguei só algumas partidas.”

m) Como foi o final da carreira?
Bom, parar é difícil. O ex-jogador também é carente. Massagear o ego, ganhar um dinheirinho com essses jogos do Masters é bom.”

n) Você hoje é professor de escolhinha?
“Me formei pelo CREF. Por ser ex-jogador de futebol, eu pulei etapas. Quando parei, fiquei no vácuo, não tinha carteira assinada. Quem me ajudou foi o Galinho, ele me deu uma oportunidade para trabalhar no CFZ. Fiquei 13 anos, agora saí.”

o) Como é a relação de vocês, ex-jogadores, com a diretoria do Flamengo?
“Vai ter uma vice-presidência de Master, acho justo! Mais de 30% da torcida do Flamengo hoje em dia é por nossa causa. O clube vai resgatar os mais velhos. Fora isso, vamos montar 40 escolas Zico 10 no Pará (são mais de 285 escolas no Brasil), com alguns jogos para celebrar o acordo. Temos uma parceria com um cidadão de Brasília, é um trabalho que envolve crianças carentes.”


10 de nov. de 2009

Zagallo

DEPOIMENTO:

"Zagallo é muito zeloso quando se refere à sua carreira de técnico. Curiosamente, não trata a sua passagem como jogador da mesma maneira. Foi um grande jogador, um dos maiores.

Acompanhei o Zagallo-jogador desde quando jogava nos aspirantes do Flamengo. Era um dribladorzinho, do drible chato, curtinho, desmoralizante. A torcida gostava, mas dali não saía nada. Então, chegou Fleitas Solich à Gávea. Viu em Zagallo um jovem com outras possibilidades além dos dribles chatos, desmoralizantes, curtinhos. Toda vez que Zagallo fazia isso, Solich apitava e corrigia. Até que Zagallo passou a ser um jogador solidário, alma do time que chegou ao tricampeonato carioca em 1955.

Levou o seu jeito de jogar para a Copa da Suécia. No tempo em que o ponta-esquerda era um atacante agressivo (Pepe, o “Canhão da Vila”, e Canhoteiro, o entortador, eram os seus rivais), Zagallo introduziu no terreno o ponta-esquerda estilo formiguinha: ajudava na defesa, participava da armação do time e, ainda, ia chatear o adversário no campo dele.

Em 1962, esteve perfeito. O jornalista inglês Brian Glanville afirmou que aquela Copa, chamada a “Copa de Garrincha”, bem que poderia ser também a Copa de Zagallo. O francês Jean-Philippe Rétacker considerou Zagallo e o tcheco Masopust como os jogadores mais inteligentes da Copa realizada no Chile. Em 1966, sem Zagallo, o Brasil retrocedeu taticamente e voltou a jogar no 4-2-4. Zagallo fez a diferença
."

(Ivan Soter, autor de "Enciclopédia da Seleção" e de "Quando a bola era redonda")


PARTIDA INESQUECÍVEL (dentro do estádio, texto de Rui Alves Gomes de Sá):


FLAMENGO TRICAMPEÃO CARIOCA (1999 - 2000 - 2001)

Petkovic comemora depois do histórico gol do tri

Passarei para vocês um dos jogos mais marcantes da minha vida. Como um bom flamenguista, guardo na memória esse Flamengo e Vasco, e aquele não foi um clássico qualquer. Era a terceira vez consecutiva que os dois times disputavam o título Estadual. Nas outras duas vezes tinha dado Flamengo e os vascaínos não estavam dispostos a perder mais essa decisão. Em tais partidas, o Vasco entrou com a vantagem de poder jogar pela igualdade de pontos devido à melhor campanha. Além disso, tecnicamente o Vasco sempre era melhor, mas no final dava Mengo. Era a raça rubro-negra imperando...

O Vasco era o atual Campeão Brasileiro (Copa João Havelange) e tinha um dos melhores times do país. Euller, Juninho Paulista e tetracampeões mundiais, como Viola e Jorginho faziam parte daquele elenco. Tinha ainda o baixinho Romário, que contundido não pôde jogar aquela decisão.

Pelo lado do Flamengo, a base era quase a mesma do Estadual anterior, com algumas mudanças. Uma delas foi o "capetinha" Edilson, que tinha chegado ao clube na última temporada e que se tornou o artilheiro daquele Carioca, desbancando Romário, e sendo decisivo na grande final ao lado do sérvio Petkovic. O goleiro Julio César também foI muito importante, fazendo defesas milagrosas.

Os 60 mil presentes na tarde daquele 27 de maio de 2001 assistiram a um jogo digno de ser uma grande final, emocionante e inesquecível. Fui com o meu filho Leonardo (na época com dez anos) nos dois jogos da final. Depois de perder a primeira partida por 2 a 1, tínhamos que vencer por dois gols de diferença para sermos campeões. Empate ou derrota por um gol de diferença davam o título ao Vasco, que tinha essa vantagem de dois resultados iguais por ter feito melhor campanha. Saímos tristes do primeiro jogo, mas como bons rubro-negros ainda acreditávamos. A torcida do Vasco saiu do primeiro jogo gritando " É... CAMPEÃO ". Nervoso, o Flamengo começou o segundo jogo pressionando, enquanto os vascaínos assustavam com perigosos contra-ataques. Numa dessas, Viola quase abriu o placar, mas Julio César fez grande defesa, e quem realmente abriu o placar foi o Flamengo. Aos 23 minutos, o lateral-esquerdo Cássio sofreu pênalti. Edilson bateu e fez 1 a 0. Só faltava mais um gol para o Flamengo ser campeão. Estávamos esperançosos...

Mas o Vasco não se deu por vencido e foi buscar o empate. Primeiro, Euller teve um gol anulado por impedimento. Depois de várias chances criadas, aos 40 minutos de jogo, Juninho Paulista deixou tudo igual após receber passe de Viola dentro da área. Ele ainda poderia ter decidido o jogo, porém Julio César mais uma vez salvou o Fla. Com o fim do primeiro tempo, o Vasco estava numa boa, podendo ainda se dar ao luxo de levar mais um gol. Mesmo assim conquistaria o título.

E o Flamengo voltou para a segunda etapa empurrado pela sua torcida, que acreditava o tempo todo na reação. Lembro-me perfeitamente que não paramos de incentivar um só momento o time. Tínhamos fé no título. Aos 8 minutos, a estrela de Petkovic começou a brilhar. Depois de boa jogada pela ponta esquerda, o sérvio cruzou na medida para Edilson cabecear e fazer 2 a 1, para o delírio da galera rubro-negra. Depois disso, foi só pressão vascaína, com Juninho Paulista batendo uma falta no travessão e com Euller driblando o goleiro e perdendo o ângulo na hora do chute. Com grandes defesas, Julio César já estava se tornando o herói daquela tarde, mas de nada adiantaria todo aquele esforço se o Flamengo não fizesse mais um gol.

Aos 43 minutos da etapa final, a torcida vascaína já comemorava o título, fazendo a festa no Maracanã. Porém, o Flamengo tinha uma falta na entrada da área a seu favor. A torcida ergue as mãos, mandando boas energias para o campo. Eu e meu filho demos as mãos e combinamos de falar juntos 1,2, 3 e gol quando da cobrança da falta. Enquanto isso, o camisa 10 se posiciona para a cobrança. "Se fosse o Zico com certeza era gol", alguem deve ter falado. Não era o Galinho de Quintino, que cobrava faltas como aquela como se fosse com as mãos, fazendo com que os goleiros pulassem em vão para pegar uma bola que era, na maioria das vezes, indefensável. Era Petkovic quem iria bater. Ele já tinha batido outras faltas durante a partida que nem incomodaram o goleiro Hélton. Mas dessa vez, como se tivesse encarnado o eterno camisa 10 rubro-negro, Petkovic chutou a bola com perfeição. Ela passou por cima da barreira e entrou bem no ângulo esquerdo do goleiro cruzmaltino, que se esticou todo, mas não conseguiu defender aquela bola que era realmente indefensável. Ouvindo depois a gravação de Luiz Penido (locutor da Rádio Tupi), não há como deixar de ficar emocionado. Confira:



O Maracanã quase foi abaixo, tamanha foi a festa em vermelho e preto, que naquele momento começava a invadir a cidade do Rio de Janeiro, durando a noite toda. Foi uma vitória inesquecível para todos os rubro-negros e, especialmente, para nós dois.

Ficha Técnica:

Local: Maracanã, Rio de Janeiro.

Data: 27/05/2001.

Árbitro: Léo Feldman (RJ).

Público: 60.038 pagantes.

Gols: Edílson (FLA) 23'/1ºT, Juninho Paulista (VAS) 40'/1ºT, Edílson (FLA) 8'/2ºT e Petkovic (FLA) 43'/2ºT.

VASCO: Helton, Clebson, Geder (Odvan), Torres e Jorginho Paulista; Fabiano Eller, Paulo Miranda, Pedrinho (Jorginho) e Juninho Paulista; Euller e Viola (Dedé). Técnico: Joel Santana.

FLAMENGO:
Júlio César, Alessandro (Maurinho), Fernando, Juan, Cássio, Leandro Ávila, Rocha, Beto (Jorginho), Petkovic, Reinaldo (Roma) e Edílson. Técnico: Zagallo.


PARTIDA INESQUECÍVEL (fora do estádio, texto de Daniel Santos):


Meu amigo Gustavinho perguntou se eu ia ao jogo. Minha resposta: "Você não foi no domingo passado e tá empolgado! O time jogou mal e os caras não se entendem! Perdemos para o Coritiba na quinta, com o time andando em campo. Não dá mais! Ganhamos dois campeonatos deles com times mais fracos. Um raio pode até cair duas vezes no mesmo lugar, mas três...NÃO VOU NÃO!!!". Como de hábito, ele deu uma resposta ríspida (estou sendo elegante) e foi embora resmungando. Horas depois, estava eu na cama, com meu walkman (sim, eles ainda existiam!), escutando a rádio Tupi e vendo a final entre Flamengo e Vasco pela TV. Falta da intermediária aos 43 do 2º tempo. O Apolinho Washington Rodrigues interrompe o Penido para dizer: "E São Judas Tadeu entra em campo". Daí em diante, eu só tenho na minha lembrança o walkman caindo no chão, as pilhas rolando pela casa e um tresloucado torcedor chorando na janela, berrando aos vascaínos do prédio da frente umas trinta vezes: "Isso é Flamengo, #%&#%#&#%#"!!!


ENTREVISTA:

A entrevista de Zagallo na verdade é um documento histórico. A história da carreira deste brasileiro se confunde com a consolidação do esporte, que já era uma mania nacional, como um verdadeiro símbolo da nação aos olhos do mundo. Zagallo jogava pelada no Derby Club e ficou feliz quando a campanha do jornalista Mário Filho foi apoiada pelo então presidente da república, o general Eurico Gaspar Dutra: um esforço nacional seria realizado para a criação do maior estádio do mundo naquele local.

Daí para frente, aquele jovem de classe média, que tinha uma carreira como representante comercial pela frente, enfrentou a oposição da família para fazer do esporte bretão a sua profissão. Sábia escolha! Porque, se em 1950, como cabo do exército, ele viu o Rio de Janeiro chorar a perda do título mundial para os uruguaios em pleno Maracanã, oito anos depois, os vizinhos da Tijuca assistiam àquele moleque franzino acabar com o "complexo de vira-latas" dos brasileiros: éramos campeões do mundo pela primeira vez! E lá estava ele, na ponta esquerda, ajudando Pelé e Garrincha a trazer a Jules Rimmet para o Brasil.

O curioso é que ele também estava lá em 1962, 1970, e em 1994. Esta lenda do futebol brasileiro recebeu com carinho e atenção esses dois profissionais, que ainda engatinham na arte de fazer perguntas. 2016? Zagallo, você já fez o suficiente pelo nosso futebol. Não é justo cobrarmos mais nada de você. Aprecie as sua lembranças e...não deixe mais o Petkovic bater faltas aos 43 do 2º tempo. Faz mal ao coração!

a) Como ocorreu a sua transferência do América para o Flamengo?
“Meu pai não queria que eu fosse jogador de futebol. Ele era sócio e conselheiro do América e a pedido da diretoria eu virei jogador. Eu era o camisa 10 do América. Mas percebi que o caminho mais curto para chegar a seleção seria a ponta esquerda (ou seja, a camisa 7).”

b) Como você viu a Copa de 1950?
“É interessante a minha relação com a Copa pois antes de o Maracanã existir eu jogava pelada no antigo Derby Club. Depois, eu estava servindo no 6° pelotão da Polícia do Exército e trabalhei na retirada das madeiras da arquibancada ao final da construção. E na final eu estva policiando o público junto à bandeira do córner no gol do Gigia, mas é claro que eu estava vendo o jogo!”

c) Como você chegou ao Flamengo?
“Devido a questões de papelada, fui para Niterói e depois de três meses me transferi para o juvenil do Flamengo em 1950”.

d) Explique a sua função tática no ataque tricampeão carioca com Joel, Moacir, Índio e Dida:
“O treinador era o Freitas Solich. Ele mudou a minha característica, pois eu gostava muito de driblar. Nos treinos ele marcava falta contra o meu time quando eu driblava e me obrigava a marcar. Dizia: ‘Drible quando necessário, tem a hora certa do drible’. Naquele time, então, eu fazia uma dupla função.”

e) Você concorda que Dida foi maior que Zico?
“O Dida era muito bom, mas Zico era diferente, era mais completo!”

f) Duas décadas antes do europeu Bossman, você obteve o passe livre. De que forma isso foi feito?
“Isso aconteceu em 1951. Eu exigi! Meu pai era representante de uma firma de Alagoas no Rio de Janeiro (por isso eu vim para cá), tinha uma boa condição e amparou o meu pedido. Quando fui assinar o contrato com o Flamengo, eu pedi o passe e a diretoria (o presidente era o Gilberto Cardoso) tentou me enganar. Mas eu consegui estipular o passe em 30 mil réis. Como a diretoria do Flamengo não deu o emprego na Caixa Econômica que tinha pedido, após a Copa de 1958 eu comprei o meu passe”

g) Após a Copa de 1958, você se transfere para o Botafogo com status de estrela. Como foi esta transferência?
“Era um contrato de 3 milhões de réis. A diretoria do Flamengo tentou me convencer e eu disse para eles cobrirem a proposta, o que eles não fizeram. O Palmeiras fez uma proposta de 5 milhões, mas como minha esposa era professora, tinha um emprego aqui no Rio de Janeiro, eu preferi ficar no Botafogo.”

h) Você foi ganhando mais que o Garrincha. Isto gerou qualquer tipo de ciúmes ou comparação com o Garrincha? Como era a relação entre vocês?
“Sim, quando eu cheguei ao Botafogo existiam ciúmes de alguns jogadores devido às luvas e ao alto salário que recebi. Isso não ocorreu com o Garrincha. Ele não era dessas coisas. Minha relação com ele era ótima. Ele era uma pessoa humilde e dentro de campo era um fenômeno à parte. Era melhor estar jogando ao lado dele do que contra”.

i) Como era sua relação com a imprensa quando jogador?
“Eu sempre li tudo o que falavam. Só na época da Copa de 1958 que eu parei de ler jornal e ouvir rádio, pois estava me influenciando de forma negativa. A imprensa dizia que eu não iria para a Copa, que o Pepe estava dentro e eu fora. Mas eu sempre li tudo o que falavam de mim!”


j) Em sua opinião, qual o título mais difícil: 1958 ou 1962? Por quê?
“1962. O time estava envelhecido (o Nilton Santos, por exemplo, estava com 37 anos), não jogou o mesmo futebol, pois o condicionamento físico não era mais o mesmo, era fraco. O time se superou pela categoria dos seus jogadores. Em 1958 era um timaço, em 1962 a experiência contou muito.”

f) Como foi o final de sua carreira de jogador? Explique a transição para a função de treinador:
“O time de 1962 fez uma excursão no México. O técnico da seleção, Geninho, queria acabar com o time. Quando voltei desta viagem, a diretoria fez a proposta para que eu treinasse o time juvenil. Eu falei: ‘tudo bem, mas mantenham o meu contrato de jogador até o final’. Eram mais sete meses ganhando como jogador.”


g) Como surgiu a fixação pelo “treze”?
“Depois que eu parei de jogar, eu usava da camisa 13. Aí comecei a ganhar. A imprensa começou a badalar e aí eu gostei disso”

h) Mesmo modificando o esquema tático da seleção de 1970, a imprensa nunca deu o devido valor ao seu trabalho. Qual a sua opinião sobre isso? Você acredita em "saudades" do colega Saldanha ou a qualidade do time era tão grande que qualquer treinador ficaria em segundo plano?
“O Saldanha jogava no 4-2-4. O resultado não seria bom e por isso eu já tinha na cabeça que isso tinha que mudar. Acha o futebol de hoje já era jogado pela seleção de 1970. Fazíamos o bloqueio no meio-campo para proteger a defesa. Mudei o Rivelino para a ponta esquerda, o Tostão fazia o papel de pivô e o convívio com o Pelé desde os tempos de jogador foi fundamental para que ele produzisse bem”



i) Até hoje professores explicam que Médici convocou Dadá Maravilha. Qual a sua posição sobre isso? Em algum momento na sua trajetória na seleção você convocou jogadores cumprindo ordens superiores?
“Não existiu nenhuma influência política um presidente da república falaria com um técnico de futebol? Como o Saldanha fez uma crônica criticando o presidente por ele ter falado do Dadá e logo depois eu convoquei ele. Olha, o Dadá nem foi para o banco na Copa se eu tivesse cumprindo ordens, pelo menos pro banco ele iria, né? Eu nunca sofri interferências do João Havelange ou do Ricardo Teixeira.

j) Quais os motivos do fracasso da seleção de 1974?
“Fácil falar. Eu perdi a base da Copa de 1970 (incluindo aí o Pelé). Eu sabia que seria muito difícil. Mesmo assim o chegamos à semi-final contra aquele timaço da Holanda e o primeiro tempo foi equilibrado, tivemos chance de ganhar.”

k) Quais as suas recordações das passagens pelo Kuwait (1976-1978), Arábia Saudita (1981-1984) e seleção dos Emirados Árabes (1989-1990)?
“Fui o pioneiro. Levei o Parreira para ser meu preparador físico quando fui para o Kuwait. E o nosso triunfo abriu espaço para que outros brasileiros trabalhassem por lá”

l) Após sua carreira como treinador tricampeão mundial, o que levou você a aceitar o convite para ser auxiliar técnico do Parreira?
“Bem, isso foi idéia do Ricardo Teixeira, que inventou que dois treinadores tomassem conta da seleção. Foi uma dupla boa, eu como coordenador dava minhas opiniões e ele me ouvia como irmão. E no dia do Tetra, ele falou: ‘Você foi um pai para mim’. Isto me marcou muito!”

m) O famoso desabafo na final da Copa América de 1997 foi endereçado a quem?
“Para o Juarez Soares e para o Juca Kfouri. Eu tinha amigos na imprensa paulista e eles disseram que estes queriam me derrubar para colocar o Luxemburgo. E não foi nada premeditado. O Galvão Bueno até tomou um susto, pensando que era para ele. Depois isto tomou uma proporção até positiva. Quando eu treinava a Portuguesa, a torcida gritava: ‘I, i,i, o Zagallo vai ter que me engolir’”

n) O que você mudaria na preparação da seleção de 1998?
“No meu entender, perdemos a Copa por mérito da França. Mas a convulsão do Ronaldo afetou todo o time. O Ronaldo não estava escalado. Mas em cima da hora ele chegou com todos os exames querendo jogar, com todos os resultados positivos. E se eu não boto o Ronaldo e a seleção perde? E provavelmente perderia. Eu tive que tomar a decisão e é isso!”

q) Como foi o tricampeonato pelo Flamengo?
“Aquele gol para mim foi uma verdadeira Copa do Mundo. A torcida do Flamengo é qualquer coisa de outro mundo. Eu já tive contato com as torcidas do Fluminense e do Botafogo, mas a torcida do Flamengo é inigualável”



8 de out. de 2009

ANDRADE


DEPOIMENTO:


"A vida impõe obstáculos e ultrapassá-los não é tarefa fácil. Andrade viveu isso bem de perto, desde os tempos de jogador. Ser percebido no meio de tantos craques no Flamengo, na década de 80, era missão para poucos. E ele soube carregar o piano.

Com talento, escolheu as melhores teclas para mostrar que a sofisticação pode andar junto com a simplicidade. Andrade mantém o estilo tranquilo e carrega a calma como arma para buscar o mesmo sucesso da época de jogador. Simples, assim é Andrade!"

(Fabio Azevedo, jornalista da TV Bandeirantes)

PARTIDA INESQUECÍVEL:


Estamos no dia 8 de novembro de 1981. O Flamengo na quarta-feira seguinte iniciará a decisão da LIBERTADORES contra o time do Cobreloa (Chile). É um jogo relativo à sétima rodada do terceiro turno do Campeonato Carioca. Foi o troco da goleada sofrida pelo mesmo placar para o rival em 1972, no dia do aniversário do Flamengo. E aquele time, em quarenta dias, venceria a Libertadores, o Estadual e o Mundial Interclubes, no período mais vitorioso da história do clube mais popular do país. Em todos os jogos a torcida do Botafogo sempre comparecia com duas faixas : “O FLA É FREGUÊS” E “GOSTAMOS DE VO6 ( 6 X 0 )”. A primeira, com a Era Zico, foi retirada já que o Flamengo ultrapassou o Botafogo no número de vitórias. Faltava a segunda...

Torcedor de arquibancada ficava sempre incomodado com aquela faixa relativa à goleada sofrida pelo Flamengo no dia do seu aniversário em 1972.

O Botafogo ainda não tinha sido derrotado pelo Flamengo em 1981. Pelo Brasileiro, os times se cruzaram nas quartas-de-final e o Alvinegro, após o empate sem gols na primeira partida, meteu 3 a 1 de virada, com show do meia Mendonça. Pelo Estadual, outro empate sem gols na Taça GB e vitória do Bota no segundo turno por 2 a 1. Lembro-me de que no primeiro turno do ano passado (1980) numa partida do primeiro semestre pelo Campeonato Carioca tínhamos feito 3 a 0 no primeiro tempo e no segundo tempo o time preocupado em se poupar não procurou mais o jogo. A torcida saiu frustada. Zico no final do jogo entendeu o sentimento de todos os rubro-negros.

Voltemos a essa partida do dia 8/11/1981. Não valeu título, nem classificação para nada, mas nenhum rubro-negro que vivenciou aquele jogo, como eu, se esquece.

Logo aos sete minutos o Flamengo abriu o marcador, com Nunes. Aos 27, o Mengão fazia 2 a 0 com Zico e antes mesmo de dar o intervalo do jogo já estava 4 a 0 com gols de Lico e Adílio.

A torcida foi para o intervalo gritando “QUEREMOS SEIS”.

A conversa no vestiário do Fla no intervalo se resumiu a apenas uma frase: ”É hoje!”!”

Preocupado em não levar os seis gols, o Botafogo voltou todo recuado. O goleiro do Botafogo, Paulo Sérgio, fazia grandes defesas. Raul também contribuiu ao defender cara a cara um chute de Jairzinho, que entrou no segundo tempo. Vale lembrar que o mesmo Jairzinho estava presente na goleada aplicada pelo Botafogo nove anos atrás.

Até que, aos 30 minutos, Zico fez de pênalti o quinto gol. É importante notar que na cobrança ele bateu a penalidade máxima com força fugindo totalmente de suas caracterísitcas. Esse gol era importantíssimo...

O último gol veio nos pés de ANDRADE (nosso entrevistado) aos 42 minutos. Nossa alma estava lavada.

Andrade marcou apenas 28 gols nas 569 partidas que fez com a camisa do Flamengo. Porém, nesta goleada seu gol acabou ganhando um valor inestimável.

Veja o que disse Andrade sobre esse gol : "Aquele gol foi o que mais marcou. Não acho que foi minha melhor atuação, mas, com certeza, ficou muito marcado. Sempre falam comigo sobre ele. Foi muita alegria na hora do gol”.

Confira todos os gols dessa partida inesquecível no vídeo abaixo:


Ficha técnica do jogo

Flamengo: Raul, Leandro (2), Figueiredo (3), Mozer (4) e Junior (5), Andrade (6), Adilio (8), Zico (10), Tita (7), Nunes (9) e Lico (11)
Técnico : Paulo Cesar Capergiani

Botafogo: Paulo Sérgio, Perivaldo (2), Gaúcho (3), Osvaldo (4) e Jorge Luiz (6), Rocha (5), Ademir Lobo (10), Mendonça (8), Edson (7), depois Jairzinho (14), Mirandinha (9) e Ziza (11)

Árbitro
: Édson Alcântara do Amorim

(texto de Rui Alves Gomes de Sá)


ENTREVISTA:


O mineiro de Monte Castelo Jorge Luís Andrade da Silva nasceu em Juiz de Fora no feriado de 21 de abril de 1957. Quando os brasileiros comemoravam o feriado de Tiradentes em pleno período de desenvolvimentismo dos “Anos JK”, o torcedor do Flamengo, amargurado por deixar escapar o tetracampeonato carioca em 1956 e triste com a campanha de 1957, não sabia que nascia naquele momento uma peça fundamental que viria a ser o maior time do Flamengo de todos os tempos.

Andrade iniciou a sua carreira no Tupi de Juiz de Fora, onde jogou por apenas três meses. Aos 15 anos, foi chamado por um “olheiro” chamado Ivanir para um teste no Flamengo, no qual foi aprovado e assim, iniciou sua longa trajetória no time de maior torcida do Brasil. Aos 17 anos, iniciou sua carreira profissional, sendo emprestado ao time venezuelano do ULA Mérida.

Segundo Andrade, esta transferência foi fundamental em sua carreira, fazendo crescer não somente seu futebol, mas também seu caráter e amadurecimento. Morava em um hotel com o zagueiro brasileiro Amaro e quando chegou ao ainda precário futebol venezuelano mudou de posição. De cabeça-de-área foi jogar como meia-atacante e, às vezes, até mesmo como atacante. Foi artilheiro do campeonato em 1977 e a experiência como camisa 10 “aprimorou seu passe e arremate ao gol”, segundo ele mesmo afirmou nesta entrevista.

Retorna ao Flamengo em 1978 como um desconhecido e logo o técnico Cláudio Coutinho o elege como substituto de Paulo César Carpegiani, que passava por problemas médicos que abreviariam a sua bela carreira. No entanto, com Carpegiani apto para jogar, o técnico tinha uma salutar dor de cabeça: como encaixar o “Tromba”? A solução foi escalar os dois no mesmo time deslocando Adílio para a ponta. O resultado foi o tricampeonato de 1979. A partir daí, todos conhecem a história daquele time que conquistou o mundo em 1981.

Mas Andrade teve a simpatia e paciência para conceder esta entrevista antes de mais um dia de trabalho na Gávea, agora na função de treinador, acrescentando sua visão sobre alguns assuntos que interessam não só a torcida do Flamengo, mas também os amantes do bom futebol
.

Daniel/Rui: Sobre a transição Coutinho – Carpegiani, os jogadores influenciaram na decisão da diretoria? Você faz algum paralelo com a sua efetivação em 2009?
“Não, eu não vejo semelhanças não. Foi sim um pedido dos jogadores a efetivação de Carpegiani, mas eu sou treinador, já tive outras passagens como técnico pelo Flamengo, fui auxiliar técnico. O Carpegiani não, nunca tinha treinado um time de futebol”


Daniel/Rui: Sobre a história que o Renato Maurício Prado divulgou na última semana, você realmente tomou os comprimidos recomendados pelo Carlos Dolabella?
“Não, o dopping jamais existiu. Eu nunca soube de nada disso. O Zico já se manifestou sobre isso e o nosso presidente também. Eu não quero comentar sobre isso, acho melhor não alimentar esta polêmica. A minha expulsão aconteceu não porque eu estava dopado, mas sim porque nós estávamos realmente com um excesso de vontade (por tudo o que aconteceu no jogo do Chile) e o juiz já tinha expulsado um do time deles, então ele quis compensar.”


Daniel/Rui: Vocês sentiram algum tipo de pressão dos militares chilenos no jogo contra o Cobreloa?
“Olha, nós sentimos um clima de guerra em Santiago, um clima de intimidação ao time do Flamengo. Houve invasão de campo após o gol do Cobreloa, as agressões ao nosso time. Nós jogadores não sabíamos muito sobre a política, somente que existia uma Ditadura Militar no poder, mas nada relacionado à política”


Daniel/Rui: A história do deboche dos jogadores do Liverpool é verídica ou apenas mais um "causo" do futebol?
“Eu acho que os jogadores do Liverpool acharam engraçado a corrente de oração do time antes da entrada em campo e começaram a rir. Eu acho que é mais uma questão cultural mesmo, eles não estavam acostumados com aquilo. A partir daí o Júnior falou: ‘Deixa eles rirem agora, pois depois eles vão chorar’.”


Daniel/Rui: Sobre 1987, em algum momento os jogadores cogitaram jogar contra o Sport?
“Em momento algum o time quis jogar com o Sport. Nós jogamos contra o Inter e ganhamos. Éramos os campeões, éramos considerados os melhores por todos, inclusive pela imprensa. Não tinha porque jogar contra o Sport, não tínhamos nada mais a provar”


Daniel/Rui: Como foi a sua passagem pelo Roma entre 1988 e 1989? Quais as dificuldades para a adaptação?
“Eu estava em excursão com a seleção e depois me apresentei ao Flamengo que também estava em excursão pela Europa, se eu não me engano disputamos um torneio na Holanda. Eu estava desgastado e cheguei depois da pré-temporada, que é fundamental no futebol europeu. Mas eu fui titular e joguei bem nos três primeiros jogos.


Mas logo aconteceu uma situação complicada. Giannini era meia-atacante e o único jogador do Roma que estava na seleção, que depois dos três primeiros jogos estava em um momento ruim. Ele deu uma entrevista dizendo que eu jogava pela mesma faixa de campo dele, o que estava atrapalhando seu futebol. Criou-se um clima desfavorável para mim e ao mesmo tempo eu senti que estava mal fisicamente, tentei até mesmo treinar fisicamente fora do horário, pois depois da pré-temporada eles só fazem a manutenção e eu não fiz a pré-temporada, e isso me atrapalhou muito. Eu não conseguia render, a parte física me atrapalhou muito.


Não foi bom profissionalmente, mas foi uma ótima experiência de vida.”


Daniel/Rui: Como seu retorno para o Vasco foi recebido pelas torcidas do Flamengo e do Vasco? E qual a sensação de jogar contra o Flamengo após 14 anos de carreira?
“Minha intenção era voltar ao Flamengo. O Júnior estava voltando também da Itália, do Pescara. O Gilberto Cardoso estava viajando, estava na Itália, enquanto eu estava treinando na Gávea. A situação do contrato somente seria definida após a sua volta e eu continuava treinando esperando por ele. Mas neste meio tempo o Telê Santana deu uma entrevista dizendo que achava que um meio-campo comigo e com o Júnior ficaria muito envelhecido. Eu senti que o clima não era favorável.


Enquanto isso eu recebi uma proposta do Fluminense e do Guarani. Mas a do Vasco era muito boa e o time que eles estavam armando era muito bom. Então eu acabei fechando com o Vasco.”


Daniel/Rui: Em relação à seleção, qual o seu momento mais glorioso e a sua maior decepção?
“O Gol contra a Áustria foi o momento mais positivo da minha passagem pela seleção. O momento mais triste foi porque eu participei de todos os jogos das eliminatórias de 1986 e não fui convocado.”


Daniel/Rui: Por que você estendeu a sua carreira até 1997?

“Jogava por prazer. Parei por problemas no joelho, jogando pelo Bacaxá. O Zico tinha já falado para mim, quando você quiser venha trabalhar comigo aqui no CFZ. Então eu fui para lá!”


Daniel/Rui: Você tem empresário? Como é a relação destes novos elementos do futebol com os clubes e os treinadores?
“Olha, eu acho sim importante ter um empresário. Porque eu não posso sair por aí me oferecendo para os clubes, é falta de ética. Mas se eu tenho um empresário e ele me oferece, é menos complicado. O empresário faz a ponte entre o técnico e o clube. Hoje eu não tenho empresário, mas penso em ter sim! Nunca houve interferência de empresário no meu trabalho, para escalar jogador A ou B.”


Daniel/Rui: Qual recado você gostaria de deixar para os jovens?
“Acho que o diálogo é o melhor caminho para solucionar os problemas, sou contra a punição, entendeu?! Eu acho também que a família é muito importante, a minha família foi fundamental para a minha carreira”