14 de jan. de 2010

Adílio


"Adílio fez parte daquele time que encantou o mundo em 1981. Seu toque de bola refinado deu ao meio - campo do Flamengo a leveza que proporcionou as glórias de Zico, Andrade, Nunes, Lico e outros craques que por ali passaram. Participou do início da campanha vitoriosa de 1987, mas questões contratuais impediram o herói do Bicampeonato contra o Santos levantasse a taça pela quarta vez. Anos depois, volta ao Flamengo como técnico vitorioso das categorias de base. Ainda desfila pelos gramados com seus antigos companheiros pelo time de máster e agora tenta uma nova carreira: a de político. Neste momento de "lua de mel" entre a torcida e o time do Flamengo, é sempre interessante revisar os ídolos do passado. Eis o "Brown" da Cruzada, de risada fácil e simpatia ímpar!"


DEPOIMENTO

"Que Neguinho é esse...?"
Foi assim que saudei Adílio na última vez em que nos encontramos. E recebi dele o abraço afetuoso de sempre, acompanhado do seu sorriso de orelha a orelha, marca registrada deste que foi um dos maiores jogadores do futebol brasileiro. Continua em forma, fininho, pronto para entrar em campo, com o mesmo andar cadenciado com que conduziu por muitos anos a bola que saía da defesa do Flamengo e que chegava ao ataque com a qualidade dos grandes mestres, isto quando não resolvia ele mesmo, usando seus dribles clássicos e desconcertantes, chegar ao gol e marcar mais um dos tantos que fez. Foi ídolo rubro negro, mas nunca recebeu a oportunidade de apresentar na Seleção o que todos sabiam que ele poderia mostrar. Quem perdeu foi a Seleção. Hoje, mesmo passando dos 50 anos, certamente teria vaga no time do Dunga. Fácil, fácil!
(Édson Mauro - Radialista)

PARTIDA INESQUECÍVEL
Flamengo e Santos (2° jogo da final de 1983)

"Parece que foi ontem. Quando Baltazar fez o gol do Flamengo no final do jogo do Morumbi, a confiança no título era imensa. Lembro a minha ansiedade para que o dia da final logo chegasse. Eu e meus amigos nos concentrávamos no sábado à noite, relembrando jogos, imaginando como seria o jogo e poupando forças para a grande final. Como vários domingos do início dos anos 1980, eu e a minha família(sim, meu irmão mais velho que hoje é Botafogo era flamenguista e ia aos jogos comigo) começávamos o dia ouvindo samba e preparando a kombi que nos levava ao Maraca. Ao chegar no templo, nos direcionamos para as cadeiras azuis, justamente para a esquerda das cabines de rádio. Foi justamente nesta direção que o gol mais marcante de minha vida aconteceu.
Ainda no primeiro minuto de jogo a final já estava empatada. Mas como assim? O Galinho fez um a zero igualando o placar das duas partidas. O Maracanã 'veio abaixo'! No segundo gol de Leandro(meu maior ídolo no futebol), ficou claro que as minhas expectativas estavam certas: o título era uma realidade. Comemorar o terceiro título brasileiro era questão de tempo. No intervalo, o samba rolava solto no Maracanã(na minha época a torcida, acredite jovem leitor, cantava samba e não tema da vitória ou funks). O segundo tempo, como era de se esperar, o Santos fez pressão e perdeu algumas chances. Nada de muito assustador!
Aquele time inspirava confiança na torcida, que já gritava "É CAMPEÃO". Então vem o lance mágico: O cabeça-de-área Vítor rouba uma bola no meio campo e esta cai nos pés de Robertinho. O ponta 'chama Gilberto para dançar' e cruza na cabeça do melhor jogador em campo: Adílio. O Brown literalmente dá um peixinho e a bola entra no canto direito de Marola. A festa na Kombi foi completa! Última parada: Laranjeiras. Era a hora de esfregar na cara do nosso rival mais um título brasileiro!!!!!!!!!!"
Alexandre Simas (Professor Educação Física)

ENTREVISTA


a) Como foi a sua efetivação como titular do Flamengo?
“Foi aos poucos, com idas e vindas. Fui me firmando aos poucos, ganhando a confiança do técnico e dos meus companheiros”

b) Vocês sabiam algo sobre o ladrilheiro? Foi algo casual ou planejado?
“Aquilo que aconteceu na final com o Vasco em 1981 não teve nenhum planejamento. Aconteceu e virou manchete. Hoje faz parte do folclore do futebol carioca.”

c) Como funcionava taticamente o meio – campo do Flamengo de 1981?“Era perfeito. O Andrade era a única cabeça–de–área. Eu voltava para fechar setor na direita, o Zico também voltava, os laterais também compunham o meio. O único fixo era o Andrade.”

d) Uma das imagens mais marcantes da história do Flamengo é sua, sangrando na final da Libertadores. Como foi o vestiário depois daquela derrota?“ O clima foi terrível. O supercílio foi o mínimo que aconteceu. Quando chegamos ao estádio, sumiram com o Figueiredo (funcionário do clube). O nosso supervisor estava chorando, pois tinha apanhado dos policiais. Naquela época era pancada mesmo! Nós encaramos tudo isso dentro de campo, o Mário Souto estava com a pedra na mão mesmo!”

e) Vocês de alguma forma adaptaram o esquema de jogo para enfrentar o Liverpool?“Não houve. Jogamos o nosso jogo. Chegamos até lá com nosso futebol. A imprensa falava muito do jogo aéreo deles, exaltando – o. o nosso jogo era bola no chão. Depois de 17 anos, eu perguntei num jogo amistoso a um dos jogadores deque Le time do Liverpool como eles encararam o nosso time. Segundo ele, os ingleses ficaram supres os com o nosso toque de bola. Pensaram que iam atropelar o Flamengo e quando acordaram já estava três a zero.”

f) Você não acha que a imagem do Anselmo ficou manchada após a agressão na final da Libertadores?“Ele mostrou ali o espírito de grupo. Eu não podia revidar. Tínhamos que escolher um cara e era o Nunes. O tempo passou, entrou o Anselmo. O jogo já estava definido e ele, para mim, salvou o povo brasileiro. Queríamos mostrar que o brasileiro podia encarar qualquer coisa, até mesmo pancada! Quando Anselmo entrou esquecemos do jogo para ver onde seria o soco. Gostamos e até alguns chilenos gostaram. Quando fui jogar noperu, joguei contra o Valência e o treinador me chamou para me dar os parabéns. Ele era treinador do Cobreloa naquela final e disse que mandou bater em mim para que a bola não chegasse no Zico. Eu mantive o equilíbrio. Nunca fui expulso!”

g) O Anselmo estava suspenso no Mundial e não pode participar do jogo.
“Sim, mas um torcedor pagou a sua passagem ao Japão devido ao seu gesto na partida contra o Cobreloa. Ele foi integrado no grupo.”



h) Quais as lembranças que você tem do Peu?
“Ele é folclórico! No Japão, tem uma boa dele. Peu estava ao telefone no banheiro e queria ligar para a sua mãe. Naquele tempo ligar era difícil e a ligação estava caindo. O Zico falou para ele: ‘É claro Peu, tu tem que ligar para ela e esperar duas horas com o telefone devido ao fuso horário!’Não é que ele ficou lá as duas horas no banheiro!”

i) 1983 foi a temporada que você mais fez gols com a camisa do Flamengo (23 no total).Ocorreu alguma mudança tática para seu melhor aproveitamento?“Amadurecimento. Naquela época o camisa 8 tinha a obrigação de tocar para o atacante. Com o tempo, eu cai para a ponta esquerda, cortava para o meio e batia para o gol.”

j) Você participou do grupo campeão de 1987, mas não disputou o Campeonato Brasileiro. Por quê?
“O meu contrato faltava pouco tempo para acabar e eu ganharia passe livre. O Flamengo me vendeu para ganhar algum dinheiro para o Coritiba.”

k) E como foi a sua passagem pelo Sul?
“Foi boa. Joguei inclusive contra o Flamengo no Maracanã. Foi horrível jogar contra o meu time do coração. Os dois times estavam subindo de produção, quem ganhasse engrenava. O Flamengo ganhou e o resto da história todos conhecem.Depois fui para o Barcelona de Quaiaquil”

l) Como surgiu a proposta para treinar o clube saudita do Bahain?
“Eu estava no Avaí. O Ralf (preparador físico) tinha me levado como treinador – auxiliar. Fui treinar o júnior. Também treinava as escolhinhas. Aí a carreira engrenou! Voltei para jogar no América de Três Rios (ficamos em quarto lugar no Carioca).”

m) E a sua passagem nos Estados Unidos?“Em Boston, dava aula de futebol, personal e jogava no Boston Bulls. Na cidade muitos falavam português, o que facilitou minha adaptação. Tinham poucos americanos. Voltei em 1991.”

n) Como foi a experiência de treinar o time principal do Flamengo?
“Eu treinava o time de juniores. Foi na época que o Espinosa resolveu deixar o time principal apenas treinando para esticar a pré- temporada. Peguei o time de baixo para estrear no carioca e o time perdeu os dois jogos. Para mim foi legal e para a garotada também!”

o) Quando você saiu no ano passado do Flamengo, muitos criticaram a diretoria por não prestigiar seus ídolos. Como é a sua relação com a diretoria do Flamengo?“Quando você faz um trabalho muito bom, algumas pessoas não gostam. Mais de 38 jogadores foram revelados. Isto diz muito!”



Um comentário:

  1. Minha conversão aos designos da estrela ocorreu em 1979, no jogo do gol do Renato Sá. O resto é correto. E como tinha gente no Mário Filho!
    Abraços
    L.A.Simas

    ResponderExcluir