13 de mar. de 2013

Ney Franco



DEPOIMENTO

O treinador Ney Franco já pode ser considerado de linha Top no Futebol Brasileiro. Estudioso, metódico e bom estrategista. E está ficando mais contundente em suas entrevistas coletivas, o que é muito elogiável. Foi corajoso ao barrar Ganso no jogo que o São Paulo venceu o Bolívar por 5 a 0. Já tem títulos importantes na carreira com Seleções de Base, Sulamericana pelo São Paulo e Copa do Brasil pelo Flamengo. Eu o considero excelente treinador.
Felippe Cardoso, Rádio Globo


ENTREVISTA

Conheci Ney Franco e fiquei impressionado com a sua inteligência, competência e humildade. Com uma linda família que lhe dá todo o suporte para aguentar a pressão de ser técnico, o atual técnico do São Paulo impressiona.

Não se enganem com a fala mansa, sem alteração no tom de voz, o jeito pacato e sem vaidade. O técnico do São Paulo não grita e passa longe do marketing. Às vezes, impressiona pela firmeza. Foram os casos da bronca pública no maior ídolo do clube, Rogério Ceni, quando o goleiro discordou de uma substituição; da resposta firme ao vice-presidente de futebol João Paulo de Jesus Lopes, que se disse envergonhado de uma atuação, e na contundência ao acusar o Tigre de ter fugido de campo na final da Copa Sul-Americana.

É um excelente profissional, com um futuro brilhante e com perspectiva de vários títulos.

Abaixo 10 perguntas para poder conhecer melhor esse profissional.


1) Você já passou por grandes clubes brasileiros. Fale um pouco sobre essa trajetória.
Pelo Atlético MG, fui preparador físico do Infantil durante três anos e depois fui para o Cruzeiro.  No Cruzeiro fui treinador infantil durante 1 ano, treinador do juvenil durante 5 anos e meio e treinador dos juniores durante 3 anos e meio.

Nesse último emprego dirigi a equipe principal como técnico interino durante 17 jogos no Campeonato Mineiro subsituindo treinadores que eram substituídos até o técnico definitivo ser contratado.

Em 2005, apareceu o convênio do Cruzeiro com o Ipatinga e eu fui treinar essa equipe levando a minha Comissão Técnica e mais 16 jogadores do Cruzeiro.

Ganhei notoriedade nacional já no meu primeiro torneio, quando levei o Ipatinga  à conquista do título de Campeão Mineiro de 2005. Na ocasião era a primeira vez, em quarenta anos, que um clube de fora da capital vencia aquele campeonato regional. No ano seguinte, o Ipatinga, uma vez mais, surpreendeu a todos e conseguiu chegar novamente à final do  Campeonato Mineiro. Desta vez, porém, o título acabou ficando nas mãos do Cruzeiro.

Em virtude do título mineiro de 2005, o Ipatinga disputou a Copa Brasil de 2006. Conduzi o Ipatinga, desde o primeiro jogo da competição, até a fase de semifinais, quando fomos  eliminado pelo Flamengo.Eliminamos o Náutico, o  Botafogo(Campeão Carioca de 2006), o Santos (Campeão Paulista de 2006). Depois disso fui convidado para dirigir o Flamengo.”




2 ) Sua projeção nacional começou aí. Como foi esse contato para ser treinador do Flamengo ( 2006 ) ?

“Após o jogo do Flamengo com o Ipatinga ( maio de 2006, Fla 2 x 1 Ipatinga ), Maracanã, em que o Flamengo conseguiu o direito de ir a final, eu estava no vestiário quando o presidente do Ipatinga me informou que o dirigente do Flamengo Kleber Leite queria fazer contato comigo. Pensei que era para dar parabés pelo trabalho e pela campanha do Ipatinga. Fui surpreendido pelo convite para ser técnico do Flamengo. Ele me informou que ia mudar o treinador ( Waldemar Lemos ) e o meu nome foi o mais votado para assumir esse cargo.”

Aceitei prontamente pois sabia que era minha grande chance como treinador para crescer profissionalmente. Houve uma parada para a Copa do Mundo e treinei uma nova formação pois o Vasco era tido como favorito.

3 ) Você mudou a forma de jogar do Flamengo ? Como isso aconteceu ?

“Antes do primeiro jogo, o Vasco foi apontado como o favorito ao título, porém, mudei o esquema tático do Flamengo, e o que se viu foi uma enorme superioridade da equipe rubro-negra. O Flamengo venceu com autoridade as duas partidas e conquistei o primeiro título nacional. Nesse jogo lancei o Renato Augusto que viria brilhar intensamente no Flamengo.


Continuei à frente do Flamengo, no início da temporada 2007 e conquistei a Taça Guanabara e o Campeonato Carioca de 2007. Na Libertadores da América tivemos a melhor campanha da 1ª fase e fomos desclassificado pelo time uruguaio do Defensor. Perdemos por 3 a 0 no Uruguai e no Rio de Janeiro só conseguimos vencer por 2 a 0.

O Campeonato Brasileiro começou no domingo seguinte à nossa eliminação. Não fomos bem no início e perdemos de 4 a 1 para o Palmeiras. Houve um grande  desgaste e fui desligado.

Foi uma passagem muito boa no Flamengo. Fui apresentado ao grande público do futebol e consegui no Fla dois títulos que são sempre importantes para o currículo de um treinador.”



4 ) Depois você treinou o Atletico PR, Botafogo e Coritiba. Qual desses clubes teve mais destaque para você ?

“ Sem sombra de dúvidas foi o Coritiba. Peguei o Coritiba em 2009 na zona de rebaixamento. Não consegui evitar essa situação mas tivemos uma ótima campanha no segundo turno e a diretoria do Coritiba renovou comigo com o intuito de estruturarmos “ um projeto para a série A.

Em 2010 começamos uma série invicta de 8 partidas pelo Coritiba onde perdemos a invencibilidade para o rival Paraná Clube, mas esta derrota não abalou nosso time que conquistou o super-mando de campo (bônus para melhor time da primeira fase do paranaense).

Na segunda fase, com uma ótima campanha, o Coritiba foi Campeão Paranaense invicto, vencendo a competição com uma rodada de antecedência em cima do arqui-rival, Atlético Paranaense.

Tive convite de clubes da série A mas não quis deixar de lado o compromisso que assumi para voltar com o Coritiba para a série A. Achei uma decisão acertada.  Mantendo meu compromisso com o Coritiba,  cumpri meu contrato até o final de 2010, ainda sagrando-me campeão Brasileiro Série B com uma rodada de antecedência.

Foi marcante ! ”


5 ) Nessa época  o Marcelo de Oliveira trabalhava com você ?


“Não ! O Marcelo estava em uma equipe  de Alagoas ( CRB ) e sempre joguei contra ele. No início eu nos juniores do Cruzeiro e ele no Atletico MG. Conhecendo o seu trabalho percebia que ele sempre armava bons times.

Na minha saída do Coritiba o Marcelo tinha acabado de sair do Paraná F.C.. Aí eu o indiquei para continuar o meu trabalho ( 2 anos a frente do Coritiba ).”
 
6 ) No Coritiba você recebeu convite para dirigir a Seleção Sub-20 e ccordenar as categorias de base. Como foi feito esse convite ?

“Fui pego de surpresa ! Depois de 1 a 2 meses da entrada do Mano Menezes na seleção, recebi uma ligação dele ( não o conhecia pessoalmente ) me informando que “ estamos querendo fazer um projeto para treinar e coordenar as seleções de base e achamos que o melhor nome seria você”.

Achei estranho no início. Tinha acabado de ser campeão com o Coritiba e voltar a trabalhar com a base não estava nos meus planos.

Depois de uma reunião com o Ricardo Teixeira e com o Mano Menezes achei o projeto muito interessante e fiquei como treinador da sub-20 e coordenador das categorias de base.

Pela seleção sub-20, minha principal missão foi classificar o Brasil às Olimpíadas de Londres, por meio do Sul Americano Sub-20, vencendo o Uruguai por 6x0 na última rodada. Fui  novamente campeão ( Campeonato Sul Americano ), classificando o Brasil para as Olimpíadas 2012 e conquistei o Campeonato Mundial Sub-20 na Colômbia. Como coordenador fui Campeão Sul Americano sub-17 e 4º no Campeonato Mundial e Campeão Sul Americano sub-15.


Com a mudança de gestão da CBF, saiu Ricardo Teixeira e entrou José Marin, mudou a estratégia e aí fui convidado para dirigir o SP.”

7 ) Com  saida do Leão e sua entrada como foi o início do seu trabalho no SP ? Foi difícil ?
“Fui contratado, em julho de 2012, pelo São Paulo Futebol Clube para ser o substituto de Emerson Leão, após a eliminação na Copa do Brasil e a derrota por 1 a 0 para a Portuguesa.

No início doi difícil pois você pega a equipe no meio da temporada  e só vai conhecendo as características e história dos jogadores durante o Campeonato. O  início foi muito irregular e a equipe ganhava e perdia. Fomos melhorando aos poucos. No 2º turno do Campeonato Brasileiro fizemos a melhor campanha e, além de conseguirmos vaga à Libertadores de 2013 via Brasileirão, também coroamos o ano, com o Campeonato da Sul Americana, que dá ao seu campeão o direito de disputar a mais importante competição do continente no ano seguinte.


Consolidamos alguns jogadores que estavam afastados : Osvaldo ( atacante do Nordeste ), Paulo  Miranda ( era zagueiro e comigo passou a jogar na lateral direita ) e Wellington ( tinha ficado 6 meses no Departamento Médico )”

8 ) Como isso foi feito ?


“ Pelo treinamento e por conhecer jogadores de base analisava os jogadores e os deslocava para uma posição melhor. Fiz isso com o Paulo Miranda e Wellington. No final do ano a minha equipe estava com três atacantes, Lucas, Luis Fabiano e Osvaldo ),  foi a terceira defesa menos vazada e teve o artilheiro da competição”.

9 ) Um treinador tem de administrar egos. Como foi o problema com o Rogerio Ceni e com o Casemiro ? Como é lidar com isso , com o ego das pessoas ? Como se faz para a pessoa confiar em você ?

“Hoje o desafio do treinador é esse, ou seja, fazer gestão de pessoas.
Em geral, trabalho com 30 atletas e você tem de lidar com ele e com problemas dos que se acham injustiçados. Sete ou oito não são convocados para o banco e acham-se injustiçado. Eles querem jogar e não estão no banco !
O problema com o  Rogerio foi que ele reclamou de uma substituição que eu havia feito. Ele é líder e inteligente. Eu reclamei com ele e falei na mídia que não gostei do posicionamento dele. Depois disso conversamos e ficou tudo resolvido.
Quanto ao Casemiro ele achava que deveria estar jogando e pelo meu critério eu não pensava assim. Diferença de opiniões. Nada anormal !”

10 ) Alguma mensagem para os jovens ?

“ Acho que eles têm que investir e muito para ser alguém na Educação. Devem estudar para poder se preparar para a vida e essa preparação passa pela Escola. Um bom curso superior é fundamental para poder brilhar e ter um diferencial. Foi a faculdade que me deu todo o alicerce, suporte e projeto de vida.

Abrace essa fase de sua vida que é se dedicar ao estudo e escolher bem a profissão que quer ser.

Estudo  na Escola, estágio na faculdade e poder se preparar para o mundo com correção e valores éticos.”


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